Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que o vírus zika inibe a proliferação de células do câncer de próstata
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que o vírus zika inibe a proliferação de células do câncer de próstata que, segundo estimativa do Ministério da Saúde, causou a morte de mais de 14 mil homens no Brasil em 2018. Experimentos da pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e liderada pelo professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) Rodrigo Ramos Catharino, de 42 anos, revelaram que a ação ocorre mesmo depois o patógeno ser inativado por alta temperatura. A perspectiva, informa, é prosseguir até um tratamento mais barato e menos doloroso para o paciente, que atualmente costuma ser submetido a procedimento cirúrgico, que pode ser feito junto com radioterapia.
Em estudo divulgado recentemente na Scientific Reports, o grupo descobriu que marcadores de inflamação neurológica podiam ser encontrados na saliva de bebês nascidos com microcefalia — e cujas mães foram diagnosticadas com zika durante a gravidez — até pelo menos dois anos depois do parto. Catharino explicou que isso apontou que esse patógeno induz uma inflamação persistente, mesmo após sua eliminação completa do organismo.
Portanto, decidiram examinar se mesmo após a inativação o zika manteria a capacidade de destruir células tumorais. Os testes foram feitos com uma linhagem viral obtida a partir de amostras isoladas de um paciente infectado no Ceará em 2015. Após cultivo em laboratório, o vírus foi fusionado a uma nanopartícula e aquecido a uma temperatura de 56º C durante uma hora, com o intuito de inibir o potencial de originar infecção.
Os bons resultados observados in vitro pelo grupo da Unicamp foram confirmados em protótipo animal por cientistas do Núcleo de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), um Núcleo de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela Fapesp na Universidade de São Paulo (USP).
“Como também já foi confirmada a transmissão sexual do zika e a preferência do vírus por infectar células reprodutivas, decidimos testar seu efeito contra o câncer de próstata”, contou a estudante de doutorado Jeany Delafior, que integra a equipe.
O passo seguinte foi colocar uma cultura de células PC-3 (adenocarcinoma de próstata) em contato com o vírus inativado e, depois da incubação de 24 e 48 horas, confrontar com outro grupo de células tumorais não exposto ao patógeno. Delafior conta que “na análise feita após 48h, a linhagem que ficou em contato com o vírus inativado apresentou um desenvolvimento 50% inferior que a outra”.
Para desvendar de que modo o zika alterou o metabolismo das células tumorais, o material da cultura foi analisado em um espectrômetro de massas — aparelho que funciona como uma balança molecular, ou seja, que possibilita a separação e identificação dos elementos presentes nas amostras biológicas de acordo com o tamanho.
Em seguida, com o objetivo de dar sentido ao grande volume de dados obtido por espectrometria, foi feito um estudo estatístico. Nele, foram relevados 21 marcadores capazes de descrever de que modo o vírus afeta o metabolismo da célula tumoral e inibe sua proliferação.
“Encontramos, por exemplo, marcadores lipídicos envolvidos em condições de estresse e em processo de morte celular”, disse Catharino. De acordo com o pesquisador, o conjunto de 21 metabólitos pode facilitar tanto no entendimento das alterações bioquímicas induzidas pelo vírus quanto na procura de alvos-terapêuticos, abrindo caminho para diversos novos estudos.
Catharino explicou que o próximo passo da investigação envolve testes em animais. “Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para alavancar os procedimentos seguintes com a viabilização de ensaios clínicos”, projetou o pesquisador. A pesquisa contou também com a participação do bolsista de doutorado da Fapesp Carlos Fernando Odir Rodrigues Melo. Os resultados já obtidos também foram publicados na Scientific Reports.
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SAIBA MAIS
Segundo o Ministério da Saúde, é comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco de câncer, uma vez que também de outras doenças crônicas não-transmissíveis. Nesse sentido, outros hábitos saudáveis também são recomendados, uma vez que fazer, no mínimo, 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à profundeza, diminuir o consumo de álcool e não fumar.